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Pesquisa pura versus Pesquisa aplicada

A chamada pesquisa “pura” ou “básica” é conduzida com o objetivo principal de contribuir para o conhecimento já existente através do acúmulo de informação, visando entender os porquês por trás de fenômenos. Ou seja: através da pesquisa pura procura-se atualizar conhecimento mais do que produzir resultados concretos e, por definição, este tipo de pesquisa opõe-se à modalidade aplicada. Os críticos da pesquisa pura reclamam que a mesma não possui foco em resultados práticos, não oferecendo, portanto, o retorno direto ao investimento feito neste tipo de pesquisa. Ainda segundo os críticos, o máximo que os dados produzidos pela pesquisa pura e sua abordagem de pesquisa exploratória são, na melhor das hipóteses, contextuais, uma vez que não adotam os critérios científicos em toda sua aplicabilidade.

Pesquisa pura versus pesquisa aplicada

A pesquisa aplicada procura responder questões específicas, tendo como objetivo a busca de resultados e soluções concretas. É exatamente por buscar oferecer soluções práticas para problemas específicos que os resultados da pesquisa aplicada possuem muito mais valor comercial que os da pesquisa pura visto que, ainda que os resultados desta última possam ter aplicabilidade comercial, este uso imediato e concreto não é seu foco, ocorrendo, portanto, de modo incidental.

Um exemplo de como numa mesma área os dois tipos de pesquisa se diferenciam: um neurologista estudando o cérebro e conduzindo uma pesquisa pura tem como propósito contribuir para o conhecimento existente sobre o cérebro. Ainda que o conhecimento que ele produziu possa posteriormente ser utilizado como base para a criação de alguma medicação ou solução de alguma doença relacionada ao cérebro, os resultados da pesquisa pura em questão não oferecerão por si só nenhuma aplicabilidade prática imediata. Já um neurologista estudando o impacto do Parkinson no cérebro com o objetivo de identificar novas tecnologias de estimulação cerebral profunda está conduzindo uma pesquisa aplicada, visto que suas descobertas terão uma aplicabilidade prática imediata no combate aos efeitos do Parkinson.

A dura realidade financeira do mundo da pesquisa

Como o exemplo oferecido anteriormente permite inferir, os métodos de pesquisa citados são complementares: certamente os resultados da pesquisa pura oferecida podem ser no futuro muito úteis a pesquisas aplicadas realizadas na mesma área, uma vez que oferecerão a fundamentação necessária para que resultados práticos sejam produzidos. O problema é que cada vez mais os recursos para financiamento de pesquisa mundo a fora tornam-se mais escassos, obrigando os pesquisadores a ter que oferecer justificativas bem convincentes para conseguir fundos para seus projetos. Considerando-se que mais da metade deste financiamento mundialmente provém de fontes de capital privado, a inovação científica e relevância do estudo – critérios puramente acadêmicos – deixam de ser os principais parâmetros de escolha e o retorno financeiro que as pesquisas podem oferecer ganha bastante peso na escolha final do projeto que será financiado. Fica então a pergunta: neste cenário, considerando-se que as pesquisas aplicadas dão mais retorno financeiro imediato, a pesquisa pura ainda tem alguma chance de sobreviver?

As chances de sobrevivência da pesquisa pura podem estar nas consequências a longo prazo de não se investir nela. A pesquisa aplicada pode até oferecer aplicações práticas de maior apelo comercial, mas só conseguem fazer isso porque partem de conhecimento já sedimentado ao qual contribuem imensamente os resultados de pesquisas puras. Considerando estes dois métodos de pesquisa complementares, pode-se concluir que, se um alimenta o outro, a longo prazo a suposta extinção da pesquisa pura irá arruinar a qualidade dos resultados das pesquisas aplicadas realizadas, visto que não haverá conhecimento de base de qualidade para conduzir este tipo de estudo.

Num cenário de desequilíbrio no investimento dos tipos de pesquisa em questão, a falta de produção de pesquisas puras levará ao inevitável “fatiamento” de conhecimento de base em projetos menores para a busca de resultados práticos – sem a renovação necessária para garantir saltos de conhecimento. Como consequência, teremos a homogeneidade das pesquisas aplicadas e o empobrecimento de seus resultados. Por isso, embora um comprometimento com a produção de pesquisas puras de qualidade seja um desafio diante do atual cenário de escassez de recursos, as fontes financiadoras precisam ter em vista que a extinção deste tipo de pesquisa é o pior dos investimentos a longo prazo.

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