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Pesquisa-ação participante porque utilizar ou não

Embora o imaginário mais comum do fazer científico muitas vezes esteja associado ao pesquisador erudito que passa muitas horas entre leituras ou testes de laboratório, muitas outras formas de pesquisa demandam uma interação mais intensa com o objeto pesquisado, particularmente se este objeto envolver comunidades humanas específicas. Alguns destes trabalhos encaixam-se na classificação de pesquisa-ação participante.

A pesquisa-ação participante (PAP) foca na solução prática de problemas ao invés de investir esforços apenas em sua investigação. Neste contexto, a noção de “participação” enfatiza o direto envolvimento e colaboração das pessoas que fazem parte da comunidade pesquisada.

A comunidade de interesse

Tido como criador do mérito em 1946, Kurt Lewin defendia a importância da prática social no fazer do pesquisador e, segundo ele, a pesquisa feita apenas através de livros não era suficiente. Isso não significa dizer que não seja utilizada na PAP a metodologia tradicional de pesquisa, que envolve a mobilização de bibliografia especializada e a produção de relatórios, isso apenas soma-se à noção de participação.

O diferencial na PAP está no modo como a proposta de pesquisa é pensada: aqui a proposta surge a partir do contato com a comunidade que será diretamente impactada pela solução planejada para o problema pesquisado – a chamada comunidade de interesse. Isso se dá porque a filosofia da abordagem por trás da pesquisa ação-participante (PAP) defende que os recursos necessários para resolver os problemas de uma comunidade se encontram dentro da própria comunidade. Esta é uma filosofia que acredita que a produção científica pode surgir de fontes não acadêmicas e que o saber popular pode também ser de caráter científico e ajudar na resolução de problemas práticos de comunidades. Deste modo, a proposta de pesquisa do tipo PAP é sempre situacional e procura estar adequada às condições políticas, culturais, ambientais, sociais, educacionais e econômicas da comunidade de interesse.

O ciclo da pesquisa-ação participante

A processo da pesquisa ação-participante PAP costuma consistir em trabalho de campo e entrevistas junto à comunidade de interesse investigada. Para isso, torna-se fundamental a inserção do pesquisador no meio pesquisado e colaboração efetiva dos membros da comunidade de interesse para que as soluções pensadas possam de fato transformar algum aspecto da realidade desta comunidade.

O ciclo da PAP, segundo Kurt Lewin, envolve quatro estágios básicos: planejar, agir, monitorar e avaliar. De acordo com este ciclo, é necessário:

  1. PLANEJAR para uma melhor prática.
  1. AGIR para implantar a melhoria planejada.
  1. MONITORAR e descrever os efeitos da ação.
  1. AVALIAR os resultados da ação.

A primeira repetição do ciclo exige inspeção detalhada da situação atual (de observação) e é sempre a partir da observação feita nesta primeira repetição que é gerada a solução proposta. Neste ciclo contínuo os resultados sempre influenciam no planejamento de novas ações, partindo-se da premissa que para que boas soluções sejam obtidas é preciso que as soluções propostas sejam testadas e a eficácia de seus resultados sejam observados.

Restrições acadêmicas da PAP

Apesar de seus muitos benefícios e busca por uma interação consciente e responsável com a comunidade de interesse, algumas realidades da prática da PAP causam controvérsias no meio acadêmico, como:

Alto grau de urgência – dado o seu caráter motivado e às vezes emergencial, as descobertas da pesquisa ação-participante PAP podem ser metodologicamente frágeis ou seus procedimentos podem ser realizados com pouco rigor.

Trabalho com pesquisadores novatos – a realização da PAP por pesquisadores pouco experientes pode gerar dados questionáveis, visto que é um tipo de pesquisa que requer grandes habilidades de observação e cruzamento de dados, além de conhecimento especifico do ciclo da PAP.

Potencial para resultados tendenciosos – no ciclo da PAP são os próprios pesquisadores que propõem as soluções e as executam a partir das observações realizadas, cenário que pode contribuir para aumentar as chances de se produzir resultados tendenciosos.

Contexto questionável – isso pode acontecer caso os métodos da pesquisa-ação sejam colocados em prática dispensando-se uma revisão bibliográfica rigorosa que dê suporte à pesquisa localizada a ser realizada.

Contribuição limitada – a excessiva especificidade dos resultados produzidos pela PAP, voltados a uma comunidade em particular podem limitar o conhecimento para apenas o estudo de caso em questão, empobrecendo seu impacto científico. Isso tende a ocorrer mais quando o estudo de caso não é contextualizado num escopo de pesquisa mais amplo.

Em resumo, pode-se concluir que pesquisa-ação participante funciona muito bem para projetos de pesquisa específicos, mas caso os pesquisadores envolvidos descuidem do rigor acadêmico, as descobertas científicas podem ser limitadas e, por isso, de baixo impacto.

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