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Abreviaturas e afins: confusões, erros e fundamentos da escrita acadêmica

Siglas e abreviaturas são comumente utilizadas na escrita acadêmica para agilizar a comunicação, tanto para o autor como para o leitor, mas não apenas isso. Assim como os termos típicos e jargões profissionais, as siglas e abreviaturas também têm um papel na identidade de grupo. Reconhecendo esses termos, os membros de um determinado grupo se identificam. Do ponto de vista mais prático, essas estratégias são utilizadas para evitar a repetição de palavras e facilitar a leitura e compreensão. Entretanto, devem ser usadas com cuidado. O uso inadequado ou exagerado de siglas e abreviaturas pode comprometer a clareza do texto.

Quem são e o que são?

Antes de avaliar os erros mais comuns, precisamos entender claramente os conceitos. Primeiro, existe o termo específico “abreviação”. As abreviações são comumente utilizadas na escrita e na fala populares, mas não na escrita acadêmica. Mas é importante saber o que é uma abreviação para não confundi-la com a abreviatura.  A abreviação é a contração da palavra, que é apresentada em sua forma reduzida, formando uma nova palavra. Por exemplo: foto (para fotografia) ou cine (para cinema). Já a abreviatura consiste em reduzir uma palavra ou expressão a algumas letras. As abreviaturas não são novas palavras e são lidas como a palavra original. Elas são facilmente identificadas pelo ponto abreviativo. Há abreviaturas bastante utilizadas na redação científica, e um exemplo é o famoso “et al.” (do latim et alii, que significa “e outros”).

Outra estratégia de redução de palavras muito comum na escrita acadêmica são as siglas, que consistem na representação de um conjunto de palavras utilizando suas letras iniciais ou sílabas iniciais. Por exemplo, ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Os chamados acrônimos são as siglas com características de palavras que são pronunciadas como tal, e não pronunciadas letra por letra. Por exemplo, Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e AIDS (do inglês, Acquired Immunodeficiency Syndrome).

Dentre essas estratégias de enxugar o texto, as siglas (e acrônimos)  são muito comuns na escrita acadêmica, e na comunicação acadêmia em geral, sendo específicas de cada área e sub-área. Além disso, algumas abreviaturas são bastante disseminadas na escrita científica como um todo, e não apenas em áreas específicas. As principais são as abreviaturas do latim. Além do et al. já citado, temos etc. (et cetera = e assim por diante), e. g. (exempli gratia = por exemplo ou para fim de exemplo), i. e. (id est = isto é, ou seja, em outras palavras), entre outras expressões. As que sempre me causaram confusão são e. g. e i. e.: leia aqui um artigo mais detalhado sobre o uso dessas expressões e aqui outro artigo sobre as mais diversas expressões do latim comuns aos manuscritos científicos.

Há diversas outras abreviaturas comuns à escrita acadêmica. Para designar horas, use sempre a. m. / p. m. em letras minúsculas (os pontos são opcionais). Para datas, você pode decidir abreviar o mês, mas alguns meses em inglês não devem ser abreviados: May, June, July. Os demais meses podem ser escritos como: Jan., Feb., Mar., Apr., Aug., Sept., Oct., Nov., Dec. Para os dias da semana, utilize as abreviaturas apenas em tabelas ou gráficos, não no texto.

Quais são os principais erros?

Um erro comum é oscilar entre o termo original e a sigla. Depois de apresentar a sigla, não se deve voltar a escrever o termo completo: comprometa-se com a sigla. Outro erro que ocorre é utilizar as abreviaturas que se referem à formação acadêmica de maneira reduntante: Dr. Fulano da Silva, Ph.D. está errado. Você deve escrever Dr. Fulado da Silva ou Fulano da Silva, Ph.D. Além disso, observe a abreviatura etc., que significa “e assim por diante”. Cuidado para não utilizar expressões redundantes na mesma frase, como “such as/assim como” ou “including/incluindo”. Se você termina aquela frase com etc., você não inicia a frase com outra dessas expressões. Além disso, jamais adicione conjunções aditivas antes do etc., pois também é redundante. “Blablabla e etc.” está errado. Perceba também que o ponto da própria abreviatura serve como ponto final, então não adicione um segundo ponto se a abreviatura está no fim da frase.

As regras de ouro

Em primeiro lugar, não importa quão comum seja uma sigla na sua área, ela deve ser sempre apresentada pela expressão completa. Na primeira vez que você fizer menção a esse termo, escreva a expressão completa e depois acrescente a sigla entre parênteses ou após um travessão. A partir de então, use sempre a sigla apresentada. Veja o exemplo:

“A fixação biológica do nitrogênio (FBN) é realizada por microrganismos diazotróficos. A FBN é responsável pela disponibilização de nitrogênio reativo para toda a biosfera.” Depois disso, jamais alterne entre a expressão original e a sigla, como já comentamos.

Aqui temos um porém: se o termo já passou para o uso popular, essa apresentação não é necessária. Então se você trabalha com laser, não precisa escrever “light amplification by stimulated emission of radiation (laser)”. A palavra laser pode ser apresentada sem maiores explicações.

E nunca use as contrações. As contrações são combinações de duas palavras, muito comuns no inglês, como isn’t (= is not). Apesar de serem amplamente utilizadas, essas contrações são informais e não devem aparecer na escrita acadêmica. Então cuidado com esse ponto na hora de escrever o seu artigo em inglês.

Faça uma lista com todas as siglas que você utiliza no texto à medida que escreve. Inclusive várias revistas pedem essa lista na submissão e apresentam a lista na primeira página do artigo. E, quando for escrever a sua tese, lembre-se de fazer essa lista também. Vale a pena adicioná-la à versão final, mesmo que não seja requerido pelo programa.

Uma boa dica que não é uma regra formal seria: apenas abrevie termos que aparecem pelo menos quatro vezes no seu texto. Se você só utilizou aquela expressão duas ou três vezes, você acha que é realmente necessário abreviar ou apresentar a sigla? Pense sempre na experiência do leitor. Às vezes, abreviaturas e siglas demais podem complicar a leitura em vez de dar fluência.

Pondere também a sua audiência. O público para a leitura de um artigo publicado é bem específico e provavelmente estará tão familiarizado quanto você com esses termos. Já para uma apresentação em um congresso ou mesmo em um seminário do departamento, seria esperado um grupo mais heterogêneo, que em geral não estaria tão acostumado aos mesmos termos que você. Não corra o risco de excluir algumas pessoas da sua comunicação.

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