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Autora de grande descoberta sobre células-tronco é acusada de fraude pelo principal instituto de pesquisa do Japão

Falso Artigo CientíficoHaruko Obokata, pesquisadora de 30 anos famosa no Japão e no resto do mundo por suas descobertas sobre células-tronco – em particular, as células STAP – foi acusada formalmente por má conduta e fabricação de dados no dia 01 de abril de 2014 pelo RIKEN, principal instituto de pesquisa do Japão. O drama de Obokata, promissora pesquisadora, começou com o que parecia ser mais um sucesso: dois artigos publicados em janeiro de 2014 na Nature (dos quais ela é a autora principal) que detalhavam uma forma simples de reprogramar células animais maduras a seu estado embrionário, permitindo que gerassem vários tipos de tecidos.

Logo após a publicação, no entanto, foram reportadas irregularidades em relação às informações e imagens apresentadas nos artigos, fazendo com que em fevereiro o RIKEN, que é também empregador da pesquisadora, formasse uma junta para avaliar a situação. A junta que apresentou sua decisão em 01 de abril concluiu, dentre outras coisas, que foram usadas nos artigos imagens já apresentadas na tese de doutorado de Haruko Obokata e que se referem a experimentos diferentes daqueles relatados nos artigos publicados na Nature. Constatou-se também da parte de outros cientistas a impossibilidade de replicar os resultados obtidos nos experimentos apresentados.

Apesar de ter reconhecido previamente (no mês de março) – junto a outros dois autores dos artigos – que ocorreram falhas no experimento e que a equipe responsável pelo mesmo estaria inclusive pensando em anular as publicações, Obokata negou as acusações de fraude e disse que iria recorrer para contrapô-las. Seu maior medo, no entanto, era que esta situação – à qual ela se referiu como um “mal entendido” – comprometesse a credibilidade de toda a pesquisa sobre células tronco realizada por ela e sua equipe, sendo a principal delas a descoberta de células STAP (stimulus-triggered acquisition of pluripotency, ou seja: aquisição de pluripotência induzida por estímulos).

Sobre esta questão, Ryoji Noyori, presidente da RIKEN e vencedor do Prêmio Nobel de Química em 2001, disse inicialmente que a comprovação da existência de células STAP caberia aos demais membros da comunidade acadêmica. Mas diante da formalização da acusação de fraude feita a Obokata, o RIKEN disse planejar uma investigação para avaliar se as células STAP são ou não reais, investigação esta que deve durar por volta de um ano para ser concluída, segundo Noyori.

Consequências

Ainda no mês de abril, Haruko Obokata foi a público através de uma coletiva de imprensa para defender-se das acusações de fraude feitas pela RIKEN, segundo a qual teria publicado um falso artigo científico com fabricação de dados. Na coletiva ela reconheceu que foram cometidos erros no experimento, mas enfatizou que os mesmos foram acidentais e que não houve em nenhum momento a intenção de fabricar falsos resultados. Ela também afirmou já ter realizado vários outros experimentos bem sucedidos e de resultados comprovados e voltou a reafirmar a existência das células STAP.

Além da coletiva, Obokata entrou com um recurso contra as acusações da RIKEN, mas o mesmo foi indeferido no início do mês de maio e lhe foi negado o direito a um novo recurso. Diante do quadro, a RIKEN está agora discutindo que punições disciplinares serão aplicadas à pesquisadora e pediu a Obokata que anulasse o resultados apresentados na publicação da Nature.

Embora seja difícil determinar de Obokata teria de fato escrito um falso artigo científico com resultados intencionalmente fabricados ou se teria apenas comedito erros na execução do experimento, é certo que o escândalo causado pelo fato abalou não só a reputação científica da pesquisadora, como também a do Japão, uma vez que o problema partiu de um membro de seu principal instituto de pesquisa. Diante do caso de Obokata, fica o alerta para a necessidade de um controle mais rigoroso por parte dos pesquisadores na execução de experimentos a fim de evitar erros que comprometam os resultados da pesquisa e a credibilidade de seus realizadores.

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