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Pubmed, Scopus e Web of Science: um guia rápido para pesquisas bibliográficas

Uma boa revisão bibliográfica é essencial para qualquer pesquisa científica de qualidade. Através dessa revisão podemos investigar o estado do conhecimento do assunto de interesse, assim como identificar possíveis lacunas que representem oportunidades para novas contribuições na área. Se você está envolvido em alguma atividade acadêmica já deve saber que a busca em bases de dados científicos é algo tão corriqueiro na vida de um pesquisador que fica até difícil de imaginarmos como era antes dessa informação estar disponível online.

Antes da internet, essa pesquisa era feita através de um índice (index) impresso em papel, que consistia basicamente em uma lista de publicações dentro de um determinado tópico. O índice trazia informações bibliográficas como o título, o nome do autor e, às vezes, resumos dos trabalhos. Com o avanço tecnológico da era digital começamos a observar um grande aumento no número de dados e publicações de todas as áreas da ciência, gerando o chamado dilúvio de informações (data deluge). Inúmeros periódicos acadêmicos foram lançados e os antigos índices impressos passaram a ser disponibilizados em bibliotecas virtuais que iriam se tornar os bancos de dados bibliográficos que utilizamos hoje para pesquisas. Não é à toa que sempre tentamos publicar nossos trabalhos em revistas indexadas. A indexação em bases de dados confiáveis é vista como um indicador importante de qualidade. Dessa forma, se o seu trabalho for publicado em um periódico indexado, ele terá maior visibilidade e credibilidade perante à comunidade científica.

Para as ciências da vida (life sciences), muitos serviços de indexação com diferentes recursos de busca foram desenvolvidos nos últimos anos, incluindo bases de dados bastante populares, como o Pubmed, Scopus e Web of Science. Mas qual é a diferença entre elas? Quais são as vantagens de cada uma? Esse guia rápido te ajudará a otimizar sua pesquisa bibliográfica de uma vez por todas!

MEDLINE

O MEDLINE é a base de dados bibliográficos da Biblioteca Nacional de Medicina (NLM) dos Estados Unidos, com mais de 26 milhões de referências a artigos de revistas de ciências da vida, com ênfase em biomedicina. Suas citações incluem 5.200 periódicos com cobertura de 1946 até os dias de hoje. Um diferencial desse banco de dados é a utilização do MeSH (Medical Subject Headings), um vocabulário controlado de termos biomédicos usados para indexação. O uso do MeSH faz com que seus resultados sejam mais precisos pois indexa o conteúdo de acordo com palavras-chave pré-definidas. Por exemplo, se você pesquisar por “urinary infection” utilizando essa estratégia vai descobrir que o termo determinado pelo NLM é, na verdade, “urinary tract infection” e será redirecionado para as citações que se enquadram nesse cabeçalho. Uma limitação deste banco de dados é que ele é composto basicamente por artigos de periódicos. O MEDLINE não indexa capítulos de livros ou trabalhos de conferências.

Quando usar o MEDLINE?

Para buscas guiadas por termos MeSH e/ou limitadas por cabeçalhos que tornam a pesquisa cada vez mais precisa.

Pubmed

O Pubmed é uma base de dados online, desenvolvida e mantida pela NLM, que oferece acesso gratuito à citações e resumos de publicações na área biomédica. Disponível desde 1996, fornece mais de 31 milhões de referências que, além do conteúdo do MEDLINE, também incluem registros de artigos ainda em fase de indexação, artigos de periódicos fora do escopo do MEDLINE e livros. Estes livros estão disponíveis na NCBI Bookshelf, uma plataforma voltada para a divulgação gratuita do texto completo de livros de ciências biomédicas e da vida. O Pubmed geralmente inclui links que nos direcionam para o texto completo de artigos no site da editora, no Bookshelf ou no Pubmed Central (PMC). Desde 2008, é exigido que o público tenha acesso aos resultados de pesquisas financiadas pelo Instituto Nacional de Saúde (NIH) dos Estados Unidos no máximo 12 meses após a data de publicação. O PMC é a base de dados que compreende essas publicações, que também incluem periódicos de ciências gerais e química. Dessa forma, se você pesquisar pelos mesmos termos, o Pubmed retornará mais resultados que o MEDLINE. Além disso, quando você clica para visualizar o resumo de um artigo de interesse, uma lista de artigos semelhantes a esse (similar articles) também é exibida. O Pubmed costuma ser visto como uma base de dados com poucas desvantagens. No entanto, sua interface de busca pode ser considerada pouco amigável para pesquisadores menos experientes. Além disso, nem sempre links para textos completos são disponibilidados.

Quando usar o Pubmed?

Para uma conversão rápida e gratuita de palavras-chave para termos biomédicos (mapeamento MeSH automático) e busca por artigos similares ao de interesse.

Web of Science

O Web of Science, antes conhecido como Web of Knowledge, é um banco de dados multidisciplinar com acesso baseado em assinaturas. Produzido pelo Institute of Scientific Information e agora mantido pela Clarivate Analytics, esse serviço de indexação dá acesso a múltiplos bancos de dados que, quando combinados, totalizam mais de 33 mil periódicos com foco em ciências da vida, ciências biomédicas, engenharia, ciências sociais, artes e humanidades, com cobertura de 1899 em diante. O Web of Science também dá acesso a trabalhos de conferências, seminários, workshops, convenções e simpósios, permitindo aos pesquisadores expandir a busca por literatura científica além dos periódicos tradicionais. Essa plataforma costuma ser bastante utilizada para pesquisa de referência citada. Se você possui um artigo relevante em mãos, a base de dados consegue identificar de forma abrangente outros trabalhos que citaram esse estudo, o que pode ser bastante útil na identificação de estudos adicionais para inclusão em revisões sistemáticas, por exemplo. Além de ser um serviço pago, uma limitação do Web of Science é que ele é atualizado com a literatura impressa, sem indexar versões iniciais online, como é feito no Pubmed.

Quando usar o Web of Science?

Para buscas que incluam trabalhos além dos publicados em periódicos revisados por pares e/ou para pesquisa de referências citadas.

Scopus

O Scopus é uma base de dados multidisciplinar que cobre a literatura acadêmica de quase todas as disciplinas, com acesso baseado em assinaturas. Lançado em 2004 como um serviço da Elsevier, afirma ser “o maior banco de dados de resumos e citações da literatura com revisão por pares”, incluindo mais de 19.000 títulos de 5.000 mil editoras. Além de periódicos revisados por pares, o Scopus também indexa artigos de periódicos comerciais, livros, registros de patentes, publicações de conferências e páginas acadêmicas da web, com cobertura de 1996 até o presente, salvo poucas exceções. O Scopus possui um banco de dados internacional mais abrangente que o Web of Science e oferece ferramentas inteligentes que podem ser um diferencial no momento da pesquisa, como o ranking de periódicos, perfis de autores, número de artigos publicados por uma revista em um determinado ano e frequência de uso de termos científicos. Esse tipo de recurso é interessante se você estiver buscando por tendências de publicação e terminologia para o seu trabalho, por exemplo. O Scopus possui limitações semelhantes ao Web of Science quanto a atualização e custo, além de apresentar cobertura apenas para literatura mais recente.

Quando usar o Scopus?

Para cobertura abrangente de campos interdisciplinares, de trabalhos publicados em idioma que não seja o inglês e de páginas científicas na web. Pode ser usado também para buscas por tendências e terminologias de publicação.

Google Scholar

O Google Scholar, conhecido em português como Google Acadêmico, foi lançado em 2004 pelo Google como uma ferramenta simples e gratuita para pesquisa interdisciplinar. Você não precisa ter nenhuma habilidade especializada para realizar consultas no Google Scholar, já que termos acadêmicos pré-definidos não são necessários, como no caso do MeSH.  Seu maior diferencial é não se tratar de uma base de dados com curadoria humana, e sim um mecanismo de busca em toda a internet que classifica os resultados como acadêmicos baseados em critérios automatizados por máquinas. A indexação se baseia no envio de informações de editores ao Google Scholar e não necessariamente na procedência da fonte,  tornando a pesquisa muito mais abrangente. Como a busca é feita no texto completo dos artigos, diferente dos bancos de dados convencionais em que a busca é feita nas citações e resumos, você pode encontrar informações “escondidas” que são referenciadas em outras seções do artigo, como um detalhe específico na metodologia, por exemplo. Por outro lado, essa característica também faz com que materiais pseudocientíficos, periódicos de má qualidade e até mesmo predatórios possam ser incluídos nos resultados.

Quando usar o Google Scholar?

Para pesquisa por detalhes específicos não encontrados em outros bancos de dados. Usado também para detecção de plágio em frases e porções maiores de texto.

Portico

O Portico é um serviço de preservação digital que protege o acesso permanente a periódicos eletrônicos, livros e outros conteúdos científicos. Criado em 2002 com o objetivo de “ajudar a comunidade acadêmica a usar tecnologias digitais para preservar o registro escolar e o avanço sustentável da pesquisa e ensino”, atualmente é o maior arquivo de preservação administrado por uma organização sem fins lucrativos. O Portico é mantido por contribuições de editoras e pagamentos anuais de bibliotecas assinantes. Essa base de dados registra o conteúdo de mais de 117 editoras, incluindo mais de 88 milhões de periódicos, e disponibiliza esse material para as bibliotecas participantes quando o título deixa de ser disponibilizado pela editora ou qualquer outra fonte devido a algum evento desencadeador (trigger event), como a descontinuação de uma revista. A maioria dos arquivos também está disponível para acesso pós-cancelamento. Isso quer dizer que se a sua instituição cancelar a assinatura de um periódico científico, é possível fazer uma solicitação ao Portico e, após a confirmação da editora, o acesso ao material publicado até o momento do cancelamento será fornecido para a sua biblioteca. Uma desvantagem do uso do Portico é que as taxas anuais para licenciamento do seu software proprietário são menos atraentes quando comparadas a outros serviços de arquivo digital.

Quando usar o Portico?

Para pesquisa em títulos descontinuados ou edições antigas não fornecidas por editoras e para acesso pós-cancelamento.

Nosso guia te forneceu importantes informações sobre o acesso aos bancos de dados mais populares usados para a pesquisa científica. Entretanto, a lista de serviços disponíveis é bem mais vasta e, dependendo do propósito da pesquisa, a utilização de outras bases de dados e ferramentas avançadas de busca podem ser recomendadas.

Agora que você já sabe como manter sua literatura científica atualizada, conta pra gente nos comentários: qual é a sua base de dados mais utilizada e por quê?

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