Exposição online aumenta índice de correções em artigos acadêmicos
Uma pesquisa realizada por James Brookes e publicada em abril deste ano na revista online PeerJ concluiu que um artigo acadêmico já publicado cujas fragilidade são discutidas em fóruns online públicos entre outros pesquisadores apresenta maiores chances de ser corrigido ou rejeitado pela publicação no qual foi veiculado que um artigo cuja sinalização de problemas se dá de modo privado.
O corpus utilizado por Brookes serviu como conteúdo de um blog criado por ele anonimamente em julho de 2012 – o science-fraud.org – e que tinha como objetivo apontar fragilidades de artigos já publicados da área das Ciências Biológicas. Em janeiro de 2013, no entanto, Brookes foi forçado por questões legais a revelar sua identidade e a remover o conteúdo do blog.
Apesar disso, os seis meses em que o blog ficou no ar serviram para que Brookes publicasse o estudo em questão, denominado Internet publicity of data problems in the bioscience literature correlates with enhanced corrective action. O corpus usado no estudo é formado por 497 artigos, dos quais 274 foram discutidos online e 223 não chegaram a ser publicados no blog. Dos artigos publicados no blog, 16 foram rejeitados e 47 sofreram algum tipo de correção por parte das publicações, enquanto entre aqueles que não foram publicados estes números correspondem a dois artigos rejeitados e cinco corrigidos, índices consideravelmente mais baixos.
Entre os casos apresentados por Brookes de artigos cujos problemas foram reportados a publicações de modo privado, mas correções não foram feitas (ou foram insuficientes), estão exemplos que podem ser considerados alarmantes, como um de duplicação de resultados (uma mesma pesquisa publicada em dois periódicos que não permitem esse tipo de procedimento) e outro de conteúdo fabricado. Embora Brookes ressalte que o fato de entrar em contato com as publicações de forma anônima prejudique a credibilidade de sua intervenção no processo de reavaliação dos artigos e que o corpus usado é pequeno e academicamente limitado (por referir-se apenas ao campo das Ciências Biológicas) para que se tirem conclusões mais amplas e definitivas sobre a questão, ele conclui que os resultados colhidos são capazes de explicitar que a maior visibilidade dos artigos acadêmicos online e a consequente discussão de suas fragilidades em espaços como blogs contribui para que as publicações se empenhem mais em corrigir os problemas apresentados por estes.
Apesar de defender essa publicização, como afirmou em entrevista à Times Higher Education, Brookes, porém, não aponta caminhos definitivos para que um sistema eficaz que permita isso seja implantado pelas publicações, de modo a garantir que a qualidade dos trabalhos apresentados não seja comprometida pela falta de correções necessárias nem pelo “ataque” de possíveis detratores anônimos em fóruns públicos de discussão. Ele apenas sinaliza que existe muito a ser melhorado para garantir esta qualidade e que a exposição pública à avaliação de outros pesquisadores pode ser benéfica neste sentido.
O que o estudo de Brookes na verdade faz é chamar a atenção para os atuais problemas no controle de qualidade da avaliação de trabalhos acadêmicos e apontar para o potencial oferecido pelas novas tecnologias como possibilidade para melhorar este processo. A principal sugestão apresentada por ele, que seria formar uma espécie de rede de avaliação através de fóruns públicos online, é atravessada por vários obstáculos, como os malefícios do anonimato dentro desta rede, e que podem levar a deformações tão danosas à credibilidade dos resultados de pesquisa apresentados quanto aquelas causadas pelos métodos atuais. Por isso mesmo, talvez o principal mérito da pesquisa de Brookes seja sinalizar que existe muito há ser melhorado e que para que progressos reais sejam feitos neste sentido é necessário grande empenho de todos os envolvidos nas várias etapas do processo de publicação.