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Corrupção no sistema de revisão por pares em periódicos e a credibilidade acadêmica

O sistema de avaliação pautado na revisão por pares é um dos pontos altos da triagem de qualidade no universo da publicação acadêmica, mas sua blindagem não é total. Ao menos é o que se pôde constatar após um escândalo descoberto há poucos meses pela Sage Publications, que tirou de circulação ao menos 60 artigos sobre ciência acústica publicados ao longo de quatro anos no Journal of Vibration and Control. A fraude envolvendo os artigos partiu do pesquisador taiwanês Peter Chan, da National Pingtung University od Education (Taiwan), que teria manipulado o processo de submissão fabricando avaliações dentro do sistema de revisão por pares da Sage para favorecer sua pesquisa e a de seus colegas.

Embora o esquema coordenado por Chan possa ser considerado sofisticado demais para tornar-se algo recorrente (uma vez que envolveu inclusive a criação de várias contas de e-mail e perfis falsos), ele mostra que o sistema de revisão por pares é passível a falhas e fraudes, o que coloca em cheque a credibilidade acadêmica. Porém, sobre a questão da credibilidade acadêmica, particularmente no âmbito das Ciências Biológicas, Francis Collins e Lawrence Tabak, respectivamente diretor e vice-diretor do US National Institutes of Health, acreditam que a fraude não seja o maior dos problemas. Para ambos a má conduta planejada visando forjar resultados ou fraudar o sistema de publicação acadêmica representa a minoria dos casos de má conduta acadêmica, que geralmente são causados por negligência. Seja por treinamento insuficiente por partes dos pesquisadores ou má condução do experimento, um grande número de trabalhos de pesquisa no universo das Ciências Biológicas atualmente não passam pelo crivo da reprodutibilidade, ainda que não sejam experimentos tão complexos.

Os culpados

A resposta é clichê, mas neste a culpa e mesmo do “sistema” (do acadêmico ao menos). E não são só Lawrence e Tabak que apontam isso, a queixa é geral. A chamada cultura do “publicar ou perecer”, conhecida no Brasil também como a cultura do “produtivismo acadêmico”, parece estar contribuindo para aumentar o número de trabalhos realizados com pouco rigor. Visto que, parece terem chances competitivas de conseguirem financiamentos de pesquisa e em casos mais extremos para manterem seu empregos, pesquisadores são pressionados a “baterem metas” de publicação independente do andamento de seus trabalhos pesquisa. Ou seja: esteja o estudo concluído ou não, o mesmo deve ser transformado numa publicação acadêmica. E sendo a pressa inimiga da perfeição – como ensina o dito popular – os resultados podem ser desastrosos uma vez que os estudos são publicados sem terem passados pelo número de testes necessários, comprometendo sua capacidade de reprodutibilidade.

O que pode ser feito

A solução ideal para que a credibilidade acadêmica seja efetivamente restaurada dentro do próprio meio seria a realização de mudanças drásticas na cultura de publicação atual, mas como isso é algo extremamente complexo, Lawrence e Tabak propõem algo mais simples e que pode ser eficaz em muitas áreas. Como ambos mencionam, num universo no qual os próprios pesquisadores não se dão o tempo necessário para testar como deveriam seus experimentos, é pedir demais que pareceristas sejam os responsáveis por ser o crivo final da qualidade dos trabalhos (o que fragiliza o sistema de revisão por pares). Por isso mesmo a solução defendida por Lawrence e Tabak é uma maior transparência na disponibilização dos dados da pesquisa, que devem ser armazenados para consulta pública em bancos de dados de livre acesso, permitindo que qualquer pesquisador interessado possa tentar reproduzir o experimento. As noções de transparência e melhoria de acessos no meio acadêmico se fazem presentes no discurso de muitos pesquisadores e parecem ser tendência geral no contexto atual, no qual se busca como um todo formas de fortalecer credibilidade acadêmica e de melhorar a qualidade o fazer científico.

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