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SCIgen – Tendência ou armadilha no meio acadêmico?

UntitledO SCIgen é um programa que gera documentos aleatórios de pesquisa, incluindo gráficos, figuras e citações. Ele foi criado por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e gera aleatoriamente bobagens sob a forma de trabalhos de pesquisa de ciência da computação, incluindo gráficos, diagramas e citações. Ele usa uma gramática livre de contexto para formar todos os textos e seus autores afirmam que seu objetivo é “maximizar a diversão, ao invés da coerência”.

Apesar do tom de brincadeira, os estudantes quiseram expor uma questão séria. Eles queriam provar que, apesar dos Congressos Científicos importunarem pesquisadores para a entrega de artigos científicos, os mesmos aceitam qualquer lixo, pois estão apenas interessados no enorme valor pago pelos acadêmicos como taxa de inscrição em tais eventos.

Sendo assim, os alunos escreveram um programa de computador simples que gerou um artigo aleatório e o apresentaram como um trabalho acadêmico. Eles colocaram seus nomes no artigo e o enviaram para um Congresso. O artigo foi prontamente aceito. A farsa foi revelada mais tarde, mas não sem antes deixar sua mancha na comunidade científica.

Entretanto, tal brincadeira não parou por aí. Os criadores do gerador automático de baboseiras, Jeremy Stribling, Dan Aguayo e Maxwell Krohn fizeram com que o programa SCIgen fosse livre para download. O resultado foi uma proliferação de artigos falsos sendo enviados para Congressos Científicos. Um cientista francês, Cyril Labbé, identificou mais de 120 artigos gerados por computador publicados por instituições acadêmicas respeitáveis na Alemanha, China e nos EUA. Labbé usa o seu próprio programa de computador para detectar documentos SCIgen analisando padrões de vocabulário. Prosa acadêmica genuína, escrita por seres humanos, tornou-se tão impenetrável que somente um computador pode distingui-la de artigos gerados por software. O trabalho de detetive de Labbé revelou o quão profundo o problema se tornou. Os acadêmicos estão sob intensa pressão para publicar, Congressos e revistas querem transformar os seus eventos e documentos em lucros e as Universidades querem publicá-los a qualquer custo.

Entretanto, tal situação não é inédita. Há uma longa história de jornalistas e pesquisadores enviando artigos paródia que são aceitos em Congressos ou revistas para revelar as fraquezas nos controles de qualidade acadêmica. Uma vez que os trabalhos fraudulentos são detectados, os acadêmicos responsáveis devem removê-los, deixando uma nota justificando sua ausência. Entretanto, cabe aqui uma reflexão: os pesquisadores científicos são como todos os seres humanos e, em um ambiente de alta competência, onde há muito dinheiro e prestígio envolvidos, sempre haverá pessoas dispostas a “esquecer” as regras.

Apesar do tom e brincadeira dos acontecimentos e de alguns acadêmicos terem ficado revoltados com o que ocorreu, tal acontecimento abriu à comunidade acadêmica a oportunidade de rever sua forma de avaliação de artigos e se Congressos e Revistas Científicas devem priorizar lucro sobre qualidade. Os sistemas editoriais devem incorporar os controles correspondentes em seus procedimentos de arbitragem para evitar publicações fraudulentas e, ao mesmo tempo, valorizar os pesquisadores que realmente dedicaram seu sangue, suor e lágrimas em seus artigos para que eles sejam realmente avaliados e reconhecidos por seus pares.

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