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Storyteling na Academia: Reduzindo riscos na narrativa da pesquisa

A arte de contar histórias, ou o chamado storytelling, é algo de conhecimento do senso comum, e mesmo aqueles que nunca ouviram falar ou leram nada sobre estruturas narrativas sabe intuitivamente como uma história “funciona”, por assim dizer. Talvez por isso a ideia de colocar em diálogo a estrutura da narrativa com a estrutura do texto produzido dentro das fronteiras da academia – tão codificada e pouco acessível a leigos – possa parecer inicialmente “extravagante” e até mesmo fora de propósito; mas será que elas realmente se opõem? Aparentemente não, ao menos é o que a repórter com imersão no mundo acadêmico Cheryl Brumley tenta demonstrar no artigo Academia and storytelling are not incompatible, e sua argumentação parece bastante razoável.

Storytelling versus Ciência

Se bem simplificada, a estrutura de uma narrativa pode ser reduzida à intriga mínima, que consiste na apresentação de uma situação inicial que será perturbada e se desenrolará até ser resolvida, restituindo a ordem inicial ou instaurando uma nova ordem. Ou seja: a intriga mínima completa é o conjunto das ações que integra a passagem de um equilíbrio a outro, sendo esta a premissa do storytelling. E qual seria a lógica do texto produzido na academia, o texto científico, se não essa? Todo trabalho de pesquisa parte de apresentação de uma questão, apresenta sobre a mesma um problema e busca sua resolução, para ao final apresentar uma nova ordem (ainda que não conclusiva). Claro que tudo isso é feito dentro dos critérios do método científico, usando os jargões de cada área, interagindo com outros textos, mas, no final, a lógica estrutural não é tão diferente daquela do storytelling, ou ao menos não se opõe à mesma. Assim, pode-se dizer que dentro de um trabalho de pesquisa é possível achar uma narrativa da pesquisa e isso pode ser muito útil aos pesquisadores em momentos específicos.

Construindo a narrativa da pesquisa a seu favor

A ideia de construir e explorar a narrativa da pesquisa pode parecer inicialmente pouco útil, visto que o modo como o texto é produzido na academia tem como finalidade permitir que o pesquisador dialogue bem com seus pares, então para que serve acionar o storytelling num trabalho de pesquisa? Em primeiro lugar, serve para que o pesquisador torne-se mais claro para seus próprios pares, visto que a lógica estrutural da narrativa, pensando na estrutura da intriga mínima apresentada de modo linear, facilita a apresentação do raciocínio em apresentações públicas para membros da academia. Afinal, sempre que se apresenta um trabalho para uma plateia nova, tem-se o desafio de ser o mais claro possível, e apresentação da narrativa da pesquisa como trajetória que demonstra a passagem de um equilíbrio a outro facilita a compreensão dos demais ao propor um esforço de síntese dentro de uma lógica familiar ao senso geral.

A exploração do storytelling no universo da academia é ainda mais preciosa quando se fala para não acadêmicos. Não é incomum que pesquisadores tenham que falar para plateias de leigos ou dar depoimentos à imprensa, e sempre que isso acontece a tendência é que essas outras audiências construam uma narrativa da pesquisa do trabalho apresentado para torná-lo mais acessível a si mesmos. Logo, mesmo que você como pesquisador não narrativize seu trabalho de pesquisa, outros podem fazê-lo, porém não necessariamente da forma correta. Por isso mesmo construir a trajetória da narrativa da pesquisa que você desenvolve pode ser uma ótima forma de explorar seu trabalho para além dos horizontes da academia, diminuindo os riscos de que seu trabalho de pesquisa possa ser compreendido de forma deturpada no esforço de seu interlocutor leigo em tentar decifrar os jargões e a estrutura específica do raciocínio acadêmico. Assim, o raciocínio acadêmico não só pode ser compatível à lógica do storytelling como pode tirar muitas vantagens dela.

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