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Por que instituições de saúde lançam seus próprios periódicos médicos?

No último mês de abril a instituição norte-americana Aurora Health Care anunciou o lançamento de seu periódico, o Journal of Patient-Centered Researach and Reviews. Mas levando-se em consideração que os profissionais que atuam em instituições como a Aurora podem divulgar seu trabalhos em periódicos médicos renomados já existentes, por que lançar periódicos médicos próprios?

A questão parece ser de centralização e posicionamento, ao menos é isso que é possível apreender das palavras de Michael Thompson, médico que atua na Aurora Health Care, e Randall Lambrecht, vice-presidente de pesquisa e relações acadêmicas da instituição, em entrevista publicada no Journal Sentinel. A centralização seria no sentido de concentrar num único periódico pesquisas de profissionais da instituição, dando vazão aos que os mesmos estão realizando e posicionando-a mais efetivamente junto à comunidade acadêmica.

Lambrecht ressalta ainda que os médicos e pesquisadores da Aurora continuarão sendo incentivados a publicar em periódicos médicos de renome e que o objetivo não é competir com estes, mas sim oferecer também um espaço para que pesquisas relevantes que não consigam ser publicadas nos periódicos de ponta consigam atingir outros pesquisadores e médicos que delas possam tirar proveito.

Isso não quer dizer, no entanto, que periódicos médicos lançados por instituições de saúde não possam ou não consigam alcançar uma posição de destaque, como mostra a longa trajetória do Mayo Clinic Proceedings, cujo fator de impacto em 2011 o colocava em décimo primeiro lugar numa lista de 153 periódicos na categoria “Medicine, General & Internal”.

O Mayo Clinic Proceedings surgiu em 1926, lançado pela Mayo Clinic como um boletim interno para funcionários com o propósito de divulgar para os mesmos a produção da instituição. Só em 1958 o público-alvo do periódico deixou de ser apenas os profissionais da Mayo Clinic e da Mayo Foundation e apenas em 1964 adquiriu formalmente um conselho editorial. Porém, a abertura para submissões externas aos muros da instituição só ocorreu em 1992 e só no século XXI submissões de pesquisadores externos passaram a ser maioria em algumas edições do periódico, fato acompanhado pela descentralização da Mayo no processo de editoração e publicação do Mayo Clinic Proceedings, um processo de expansão que certamente influenciou no crescimento e fortalecimento do periódico no meio acadêmico.

Analisando a trajetória do Mayo Clinic Proceedings em comparação aos propósitos que membros da Aurora Health Care afirmam buscar com o lançamento de um periódico próprio, a centralização da divulgação das pesquisas produzidas pelas instituições parece ser o principal objetivo destes periódicos médicos. Basta observar por quanto tempo o Mayo Clinic Proceedings manteve-se restrito à produção de seus profissionais até que finalmente permitisse submissão de trabalhos de membros de fora da instituição. Respondendo à pergunta do título, estes periódicos médicos antes de mais nada têm a missão de promover as instituições às quais pertencem a como reduto de realização de pesquisas relevantes, agregando trabalhos antes pulverizados em fontes diversas.

Obviamente, num momento posterior o posicionamento mais efetivo de periódicos médicos pertencentes a instituições de saúde dentro dos critérios de qualificação do meio acadêmico passa pela abertura dos mesmos a pesquisadores de fora das instituições. Seria muito difícil conceber um periódico de ponta, particularmente nos dias atuais que são caracterizados pela globalização da informação, que consiga alcançar um alto padrão de qualidade e ser massiçamente citado (critério fundamental de qualificação dos periódicos no contexto acadêmico internacional) contando apenas com a equipe de pesquisadores de instituições médicas não voltadas exclusivamente à pesquisa. Logo, parece que na trajetória destes periódicos pertencentes a instituições médicas a excelência e maior reconhecimento são consequências do sacrifício de seu propósito inicial maior, que ao que tudo indica é a autopromoção através da produção científica.

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