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Como garantir que seu manuscrito passará pela análise estatística?

Análise EstatísticaO refinamento do fazer científico nos últimos anos levou a uma maior exploração da análise estatística como instrumento de demonstração e comprovação de resultados. A maior exploração deste recurso, no entanto, levou também ao aumento do erro estatístico, fato que vem acirrando a preocupação da comunidade acadêmica com um grave problema no âmbito das pesquisas que apresentam estatísticas: a impossibilidade de reprodução dos resultados apresentados.

O fato está levando grandes periódicos internacionais da área de Ciências Biológicas a criarem juntas de avaliação mais atentas à revisão estatística no processo de revisão por pares, com o objetivo de evitar a publicação de trabalhos com erro estatístico que possam vir a comprometer a reputação do periódico. Um dos primeiros grandes periódicos a fazer isso foi o Nature, que em abril de 2013 incluiu em sua lista de pontos a serem avaliados na revisão por pares a análise estatística. Agora em julho de 2014 foi a vez do periódico Science anunciar a formação de uma junta responsável apenas pela análise estatística na avaliação de artigos submetidos para publicação, uma proposta aparentemente mais elaborada que a da Nature e que pode virar uma tendência no meio acadêmico.

Segundo a editora-chefe da Science, Marcia McNutt, a criação desta junta não se deu em função de nenhum caso específico de erro estatístico que tenha ocorrido em artigos publicados no periódico, mas sim diante do aumento do número de artigos científicos atualmente que têm lançado mão de estatísticas como recurso de apresentação de resultados. Ou seja: trata-se de fato de uma demanda causada por mudanças no fazer científico à qual os periódicos agora buscam se adaptar.

Mas quais as consequências desta medida dos periódicos para os pesquisadores? Bem, sendo uma medida que visa diminuir a incidência do erro estatístico, a primeira consequência é a necessidade de uma revisão estatística minuciosa dos dados apresentados para garantir que o experimento seja reprodutível. Recentemente, o escândalo da pesquisadora japonesa Haruko Obokata, especialista em células tronco acusada no último mês de abril de má conduta e fabricação de dados pelo principal instituto de pesquisa do Japão (e também seu empregador), o RIKEN, chamou a atenção de toda a comunidade acadêmica para a necessidade de maior rigor nos procedimentos científicos. As descobertas contestadas foram publicadas na Nature e foram avaliadas por uma junta do RIKEN após denúncias de outros pesquisadores que não conseguiam reproduzir o experimento que tinha como pesquisador encarregado Obokata. Em sua defesa, ela alegou que não agiu de má fé, o que na verdade teria ocorrido foi negligência científica no controle de procedimentos.

Apesar de punida pelo RIKEN, é difícil saber se Obokata de fato agiu de má fé ou se foi apenas negligente, como afirmou em sua defesa. Independente das intenções da pesquisadora, fica claro que a chamada cultura do “publicar ou perecer” contribui para que o rigor seja comprometido em nome da diminuição do tempo do fazer científico para fins de apresentação rápidos de resultados. Por isso, uma vez que periódicos passem a compor juntas avaliadoras especializadas em revisão analítica no processo de revisão por pares, obrigando que pesquisadores redobrem a atenção na realização dos experimentos e análises, a tendência é que demore-se mais para que resultados de pesquisa sejam apresentados.

Outra consequência que pode ser prevista é o aumento do número de co-autores dos artigos, com pesquisadores dedicados à revisão analítica e à garantia de que o experimento possa ser reproduzido. Esta consequência está inclusive alinhada ao próprio modo como os periódicos estão procurando adequar-se a essa mudança, com a contratação de pesquisadores especializados em análise estatística para contribuir na revisão por pares, ou seja: aumentando seu capital humano especializado.

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